Processos podem gerar criatividade
Você já pensou “poxa, essa reunião vai ser chata”?
Aqui nós pensamos e transformamos os rituais de time em eventos divertidos e leves pra estimular a criatividade e trazer mais comprometimento com o foco ????
Retro, kanban, feedback, kaizen, kick-off, workshop… Já pensou na enxurrada de cerimônias e processo que temos nas empresas?
Quando recebo um novo estagiário no time ou alguém que está iniciando a vida profissional, fico um tanto assustado ao falar sobre todos os processos que fazem parte da nossa rotina. Nesses anos de vida corporativa, o que mais vejo são pessoas com caras assustadas, preenchendo planilhas de excel e formatando documentos que, na realidade, poderiam ser muito mais simples.
Talvez devêssemos pensar mais sobre o que está por trás desses processos que fazemos regularmente, no automático. Não estou dizendo que eles não são importantes; apenas, que temos que dar atenção aos seus reais propósitos.
Os processos realmente ajudam na dinâmica das equipes, no desenvolvimento do negócio e na organização do trabalho ou apenas se acumulam em torno de outros processos para, no fim, gerar mais processos?
Recentemente, li o livro “O Processo”, de Franz Kafka, e fiquei pensando sobre o assunto. A história percorre um longo processo judicial, em que o protagonista Josef K. em momento algum é informado sobre o motivo da acusação que está respondendo, tendo que percorrer por várias cortes enquanto tenta entender o que se passa com ele.
Por mais de 200 páginas, acompanhamos Josef sem saber o que realmente aconteceu e o motivo pelo qual ele está sendo processado. O livro fala sobre a culpa em seu mais amplo espectro: há um processo contra mim, e preciso me informar sobre ele… O que realmente fiz? Onde errei? Que crime cometi?
A culpa leva o protagonista a seguir pelos meandros do processo buscando uma resposta a todo custo. Ele abandona sua vida e seus afazeres para correr atrás do processo. E nessa narrativa encontramos nossa sociedade e o ser humano – o modo como encaramos a vida e respondemos aos julgamentos sociais.
No decorrer do livro, o autor nos leva ao centro da questão. Enchemos nossa vida de processos (e nomenclaturas) por que precisamos deles ou por que nos sentimos culpados por não fazê-los?
Mais uma vez quero ressaltar que não sou contra processos e nem contra dinâmicas empresariais, quero apenas pôr uma luz sobre o assunto. Se tornarmos as coisas mais simples, o que sobraria de processos e nomenclaturas?
Atuando nos ambientes corporativos, percebi com o tempo que os processos (dos mais simples aos mais avançados) têm validade quando não temos prazos apertados ou ações determinantes de curto prazo. Ou seja, eles existem na tentativa de controlar minimamente nosso dia a dia e nos ajudar a atingir metas de longo prazo, pois sem processos eficientes simplesmente não conseguiríamos.
Mas será que os processos poderiam ser mais simples, ou mesmo mais divertidos? Como lead do time de Craft aqui do iFood, por muitas vezes tive que encarar processos e continuo sem entender boa parte deles. Não acho nenhum inútil, mas muitos estão longe de serem imprescindíveis.
O pensamento que me leva a escrever este artigo é como deixar tudo isso mais leve e mais acessível para que as pessoas se interessem pelos processos e possam integrá-los de forma mais natural à rotina – sem que pilhas deles caiam sobre elas como muralhas de proteção que espantam a criatividade pra longe. Os processos rotineiros podem ser mais divertidos e podemos aproveitar alguns deles para rir e falar sério ao mesmo tempo. E é assim que fazemos aqui no time.
Vou dar o exemplo da nossa última retrospectiva, em que o time se reuniu para falar sobre os pontos positivos e negativos do último ciclo de uma maneira inusitada e ao mesmo tempo eficiente.
Em vez de chamar de “retro”, como a maioria dos times faz, nossa reunião teve o nome de Oscar. Em vez de as colunas serem “well done”, “improve” ou qualquer outra coisa do tipo, as nossas foram “melhores do ano”, “pepino de ouro” e “hits do time”.
O time foi convidado a participar usando traje a rigor e o encontro ficou mais leve. Era como a própria cerimônia do Oscar: estávamos em casa, mas ao mesmo tempo em Hollywood, relembramos nosso ano, nossas entregas e o que cada um de nós fez de melhor.
Em outro momento do ano passado, tivemos o Craft Games (o que muitos conhecem como dinâmica SWOT). Como no jogo Super Trunfo, passamos pelas forças e fraquezas do time. Com pontos que distribuímos em nossos próprios cartões, fizemos uma análise detalhada do que cada um podia melhorar e ainda saímos com cartinhas divertidas para pensar sobre a nossa carreira e nosso dia a dia. Tudo isso regado a muita música e descontração.
Sempre me pergunto porque as coisas devem ser tensas ou representar um padrão. Acredito que quanto mais padronizados são os processos e as dinâmicas de trabalho, mais padronizadas serão as respostas e os comportamentos do time.
Se queremos ter pessoas criativas explorando seu melhor potencial dentro das empresas, quais as chances de isso acontecer quando colocamos todos em caixas pré-formatadas? “Pensar fora da caixa” só existe porque fomos colocados dentro dela antes, não é mesmo?
Muito legal time, obrigado por dividir!!!